Reserva ambiental no AP enfrenta ataques a animais e falta de recursos: 'situação crônica'

 Reserva ambiental no AP enfrenta ataques a animais e falta de recursos: 'situação crônica'

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Reserva ambiental particular enfrentas dificuldades financeiras e problemas com invasores
A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Revecom, localizada no município de Santana (AP), vive uma situação crítica. A unidade, que abriga 300 animais silvestres e realiza ações de conservação há mais de duas décadas, enfrenta falta de recursos, invasões constantes e ataques a espécies protegidas.
Segundo o coordenador da reserva, Paulo Amorim, o problema se agravou nos últimos anos. A cerca de alambrado que contorna a reserva também foi danificada.
Sede da Rppn Revecom, em Santana
Isadora Pereira/g1
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“Por falta de dinheiro, tivemos que desativar três postos de vigilância. A área ficou desprotegida e vulnerável à ação de criminosos e cães de rua. São dois quilômetros de tela, com quase 70 pontos cortados. Isso facilita a entrada de pessoas e de cães treinados para caça, que atacam principalmente as cotias”, explicou ao g1.
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Cães treinados e caça ilegal
Revecom – Com mais de 17 hectares de mata preservada, muitos animais vivem livremente
Rede Amazônica/Reprodução
O coordenador explicou que a região ao redor da reserva, que comporta um residencial e um bairro, possuem grande número de cães soltos.
“Esses animais crescem com fome e acabam entrando na reserva atrás das cotias. O cachorro não mata para comer, ele se distrai e mata por instinto. Eles acuam as cotias, principalmente quando a maré está alta e elas estão em terra firme. Já encontramos várias carcaças. É uma situação crônica que começou em 2015 e só piora”, lamentou.
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Para tentar conter os ataques, a equipe criou plataformas de alimentação próximas à sede, onde é possível monitorar os animais e agir rapidamente em caso de invasão.
“As cotias estão se reproduzindo bem, o que ajuda a manter um certo equilíbrio. Mas é uma luta constante”, disse.
A reserva também enfrenta problemas com caça ilegal. O coordenador contou que animais já foram encontrados mortos com lesões graves provocadas por zagaias — uma lança de curto arremesso.
“Os caçadores usam armadilhas e vendem a carne. O quilo da cotia chega a R$ 70, o da paca a R$ 100”, afirmou.
Pacas foram encontradas mortas com marcas de caçada em área de preservação
Divulgação/Rppn Revecom
Capivara ‘Capitão’ que morava na reserva foi encontrada morta
Divulgação/Rppn Revecom
Em 2015, a equipe flagrou caçadores esvaziando covas de tartarugas na praia da reserva. Após o episódio, todas as tartarugas foram retiradas da área.
“Eles bateram na cabeça da fêmea enquanto ela botava os ovos. Era a maior tartaruga que tínhamos, com quase um metro de carapaça”, relatou.
Tartaruga foi morta por invasores na Revecom
Divulgação/Rppn Revecom
Caso anterior
Um dos casos mais emblemáticos, é a anta Chicão, que vive na reserva há 25 anos e possui uma história de resistência contra a violência humana.
“Ele foi apedrejado várias vezes, quase ficou cego. O irmão dele foi morto. Chicão fugiu pelo igarapé e veio se abrigar conosco, guiado pelas nossas vozes”, contou Amorim
Chicão se recupera após tratamento no olho
Isadora Pereira/g1
Hoje, Chicão vive em uma área cercada próxima à sede. A equipe está ampliando o espaço, que terá cerca elétrica e tanque de água.
“Ele gosta muito de água, mas precisa de um ambiente seguro. A floresta já não oferece isso”, explicou.
Anta Chicão e o administrador da Revecom, Paulo Amorim
Redes Sociais/Divulgação
Falta de apoio e estrutura mínima
A reserva conta hoje com apenas sete funcionários, cada um com funções específicas. As parcerias com empresas diminuíram após a queda da atividade portuária e da mineração.
“Já tivemos 20 pessoas na equipe. Hoje, não temos mão de obra nem recursos para manter a cerca ou ampliar os espaços dos animais. Só duas empresas ainda ajudam: uma fornece madeira e outra ração para o Chicão. A Dona Rosa, criadora, é madrinha dele e ajuda como pode”, contou.
Atualmente, a reserva trabalha com uma equipe reduzida
Isadora Pereira/g1
Paulo relatou que a reserva enfrenta dificuldades com repasses públicos.
“Temos convênio com a prefeitura, mas os pagamentos atrasam. As doações são pontuais e não cobrem as despesas correntes”, explicou.
Amorim pede apoio da sociedade e das autoridades para manter a reserva funcionando. Ele também alerta para a importância de políticas de controle de cães de rua e posse responsável.
“A segurança pública não dá conta. Não há política específica para proteger áreas como essa. Enquanto isso, festas e shows recebem atenção, e a conservação ambiental fica para trás. Se houvesse castração e fiscalização, esse problema não existiria. Os animais não têm culpa, mas precisam ser cuidados fora da floresta”, concluiu.
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